Este não é o famoso guardanapo de Arthur Laffer

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Por Binyamin Appelbaum

WASHINGTON — É um dos momentos emblemáticos da economia moderna: um jovem professor chamado Arthur Laffer esboçou uma curva num guardanapo em 1974 para mostrar a um assessor do presidente Gerald R. Ford por que razão o governo federal deveria cortar impostos.

A Curva de Laffer tornou-se famosa; o Partido Republicano tornou-se o partido da redução de impostos; e, em 2015, o Smithsonian anunciou que iria expor o guardanapo.

Mas o guardanapo agora celebrado por ter iniciado uma revolta fiscal não é, de facto, o guardanapo original, de acordo com as pessoas que estiveram na lendária reunião no que era então o restaurante Two Continents, em Washington. Em entrevista na semana passada, Laffer, 77, disse que provavelmente era uma lembrança criada alguns anos depois.

Entre as pistas: É de pano, enquanto o guardanapo original era de papel. Está datado de 13/09/74, enquanto a reunião original ocorreu após as eleições de meio de mandato de novembro de 1974. E está inscrito em homenagem a Donald H. Rumsfeld, então chefe de gabinete da Ford. Laffer reuniu-se com Dick Cheney, vice de Rumsfeld.

Laffer disse que desenhou no guardanapo do Smithsonian, mas provavelmente o fez vários anos depois, a pedido do jornalista Jude Wanniski, que queria uma lembrança do famoso momento.

O guardanapo foi encontrado entre os pertences pessoais de Wanniski após sua morte em 2005. Em duas entrevistas na semana passada, Laffer disse que o Smithsonian não o contatou antes de colocar o guardanapo em exibição e que ele soube da exposição. somente depois do fato. Ele disse que nunca havia sido questionado sobre a autenticidade do guardanapo.

“Veja como foi feito com perfeição!” Laffer disse sobre o guardanapo do museu, no qual desenhou sua curva, junto com uma breve explicação. “Diga-me como, tarde da noite, com uma taça de vinho, você vai fazer isso com tanto cuidado.”

A Curva do Sr. Laffer, que ilustra a teoria de que a redução das taxas de impostos pode aumentar as receitas fiscais, está a desfrutar de um renascimento. A ideia desempenhou um papel de destaque nas campanhas republicanas por cortes de impostos em 1981, sob o presidente Ronald Reagan, e em 2001, sob o presidente George W. Bush. Agora, os republicanos apoiam-se mais uma vez na Curva de Laffer para argumentar que a redução das taxas de impostos não aumentaria a dívida federal.

O presidente da Câmara, Paul D. Ryan, republicano de Wisconsin, que invocou a teoria do Sr. Laffer durante o debate atual, mantém na parede do seu escritório pessoal um guardanapo emoldurado, ilustrado e assinado pelo Sr. ”

O Smithsonian apresenta o seu guardanapo como a toalha de mesa que deu início a esta revolta fiscal.

“O economista Art Laffer esboçou uma nova direção para o Partido Republicano neste guardanapo”, diz a exposição, “ilustrando a sua teoria de que a redução de impostos aumentou a atividade económica”.

Brian Domitrovic, historiador da Sam Houston State University que estudou e escreveu sobre a criação da Curva de Laffer, disse que a soma das evidências disponíveis mostrava que o guardanapo do Smithsonian era “certamente uma criação ex post facto”.

Mas Peter Liebhold, curador da divisão de trabalho e indústria do Smithsonian, que adquiriu o guardanapo em 2013, disse que o museu está confiante na sua autenticidade.

“Como você sabe, a história oral é maravilhosa, mas sujeita a problemas”, escreveu ele por e-mail. “O encontro dos Dois Continentes aconteceu há muitos anos e algumas das memórias dos detalhes dos participantes podem estar um pouco erradas. Nesse caso, temos um material primário que documenta claramente a ocasião. Estou ansioso pela sua história, mas defendo firmemente a autenticidade do artefato do Smithsonian.”

O guardanapo Laffer está envolto em mistério há muito tempo, em parte porque nenhum dos presentes na reunião original o considerou particularmente histórico na época.

Wanniski, o exagero do movimento de redução de impostos, foi o primeiro a publicar um relato, em 1978, que bordou em múltiplas recontagens. Ele trabalhava para a página editorial do The Wall Street Journal em 1974 e disse que, depois de os republicanos terem sofrido grandes perdas nas eleições intercalares de 1974, organizou um encontro entre Laffer, cujas ideias considerava importantes, e Cheney.